Até hoje ouvimos questionamentos a respeito da nossa religiosidade, ou por outra, qual é a religião que professamos; muitos de nós maçons não estamos adequadamente preparados para responder a este questionamento de modo convincente, porém, acho que podemos e devemos dizer com toda tranquilidade:
- Maçonaria não é religião e não existe nenhum dogma religioso que force os seus membros a aceitá-lo; nós maçons simplesmente acreditamos na existência de um Ser Supremo, independente da crença de cada um dos seus membros.
A maçonaria, com suas milhares de lojas, esta presente em quase todos os países do mundo e desde o inicio da sua existência comprovada e documentada (1717) ela nunca foi sectária com qualquer religião e nunca promoveu ou aceitou que uma crença religiosa seja superior a uma outra.
Não existe um Deus maçom, para nós ELE é o Grande Arquiteto do Universo, que reverenciamos, porém, sem sectarismo, não oferecemos plano de salvação da alma após a morte; a maçonaria é uma invenção humana e nunca tivemos a pretensão de que as nossas cerimônias sejam guiadas pelas mãos de Deus.
Se acreditamos em um Ser Supremo, estamos descartando a presença de uma pessoa atéia em nossos templos, pois, ao pretender iniciar na nossa Ordem, o candidato precisa confirmar esta sua crença pessoal em um Deus Supremo; nenhuma loja maçônica regular pode abrir seus trabalhos sem que a Bíblia ou outro livro sagrado adotado por seus membros, esteja aberto no altar; assim como nominamos Deus com a expressão GADU, o livro que é aberto no altar é denominado Livro sagrado da Lei que, dependendo do local onde está sendo realizada a sessão, poderá ser A Bíblia Cristã, O Corão - Muçulmano, Tanach - escrituras Hebréias, Veda- Indu, ou mesmo os provérbios de Confúcio; em Israel são abertos três livros simultaneamente: a Bíblia, o Tanach e o Corão.
Todos os maçons são obrigados a fazer os juramentos que forem necessários, colocando a mão sobre um destes Livros Sagrados; se um indivíduo não acredita em um poder maior que ele mesmo, o juramento não terá nenhum significado para sua consciência.
Em algumas partes do mundo, Escandinávia, por exemplo, algumas lojas maçônicas exigem que os membros sejam cristãos e no Grande Oriente da França, considerada irregular por quase todas as potências maçônicas do mundo, é permitida a presença de ateístas como membros das lojas; alguns graus do Rito York e do Rito Escocês, apresentam temas Cristãos, usando como exemplos o Novo Testamento; embora nestes graus tenhamos lições de moralidade, , não existe a necessidade de se acreditar no Cristianismo, pois muitos Judeus maçons freqüentam estes graus, sem no entanto serem crentes de Cristo.
A Maçonaria e os Evangélicos
Não existe dúvida que a maçonaria nos Estados Unidos é constituída, em sua imensa maioria de membros, de Protestantes Anglo-saxônicos, aliás, em quase todos os países de língua inglesa o fenômeno se repete; a maioria absoluta dos corpos dirigentes dos protestantes nos Estados Unidos não fazem objeção a que seus membros sejam maçons, embora, eventualmente surjam vozes discordantes, como o ocorrido recentemente na Convenção da Igreja Batista do Sudeste, a maior associação de Batistas dos Estados Unidos que anunciou que a maçonaria é inconsistente com a crença que professam.
Na verdade o grande problema existente entre a maçonaria e os protestantes é a presença de grupos fundamentalistas e estes fazem objeção que os seus membros frequentem a maçonaria; a razão é o fato de que alguns dos seus ministros encorajam seus membros a “revelarem” sua fé em qualquer lugar e a qualquer hora; como na loja maçônica não há espaço para esta atividade, pela proibição de se fazer pregação sobre qualquer religião, torna-se impossível a pretendida pregação.
Sabemos, juntamente com alguns milhões de homens, através de mais de três séculos, que se tornaram membros desta Ordem Fraterna e dezenas de milhares deles eram Ministros religiosos, Rabinos, Bispos ou outros teólogos, que nenhum deles (que foram membros) confirmaram estas mentiras.
Há alguns anos, um irmão mestre maçom, da nossa Loja pediu “quit-place” e tive a oportunidade de conversar com ele, indagando-lhe a razão daquela atitude, respondeu-me que a igreja a que ele pertencia (não sei qual, porém, tenho certeza que era uma destas fundamentalistas que citei acima); não desejava que ele continuasse na Ordem; por que? Quis saber.
Ele então me respondeu, com toda sinceridade:
- Existem segredos na Ordem que só são revelados para os que atingem o grau 33 em uma cerimônia satânica de iniciação, ali são revelados o real desiderato da Ordem: dominar o mundo, impedindo o progresso da minha religião e o fato de nenhum membro poder expor sua fé e revelar para os outros irmãos o caminho da salvação dentro da Loja, mostra o poder deste segredo que não é revelado para todos os outros irmãos.
A Maçonaria e os Judeus
A maçonaria não tem nenhum conflito com o judaísmo; os primeiros judeus a iniciarem em uma loja maçônica fizeram em Londres por volta de 1721, justamente em uma época em que a sociedade européia se recusava a aceitar os judeus no seu meio, impedindo-os, inclusive, de assumir qualquer nacionalidade.
Voltando um pouco na história é preciso se lembrar da Peste bubônica que dizimou quase um terço da população européia no ano de 1.300 e os Judeus foram considerados culpados por este acontecimento, estes e outros eventos semelhantes deixaram marcas indeléveis na vida deste povo.
Ao serem aceitos na Loja maçônica, sentiram o fato como o símbolo da liberdade e da igualdade, em contraste com a sociedade que lhe afligia restrições; a loja foi o lugar onde Cristãos e Judeus sentaram-se lado a lado em igualdade de condições.
Alguns de nossos rituais levam-nos ao Velho Testamento, cujo conteúdo podemos dividir com os Judeus os ensinamentos dalí emanados, principalmente nossos primeiros três graus, que fazem referências a construção do templo de Salomão, construído pelos judeus.
Apesar de assistirmos, imobilizados, mais de seis décadas de violência no Oriente Médio, provocada pela criação do Estado de Israel em 1948, a maçonaria é muito forte em Israel, existindo ali cerca de 50 lojas, com Judeus, Cristãos e muçulmanos trabalhando juntos; o selo oficial da Grande Loja de Israel inclui a estrela de David, a Cruz Cristã e a lua crescente dos muçulmanos.
Em São Paulo existe uma loja maçônica quase que exclusiva de Judeus, o venerável da mesma é um médico cirurgião do aparelho digestivo e professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, meu amigo Dr. Bruno Zilberstein.
A Maçonaria e o Islamismo
Como ocorre com o judaísmo e o Cristianismo, a maçonaria não tem conflito com o Islamismo, embora, no momento, apenas o Marrocos, Líbano e Turquia, dentre os países muçulmanos, aceitam as lojas maçônicas no seu território; em vários países Islâmicos, ser maçom pode resultar em sentença de morte
Há cerca de quatro anos estive em Istambul na Turquia, quando tive a oportunidade de visitar uma loja maçônica, onde fui recebido com enorme carinho por dois maçons que lá estavam; mostraram-me o interior da loja, onde fui fotografado em frente ao altar.
A história da relação da maçonaria com a Turquia é um capítulo à parte, a Ordem teve no passado grande dificuldade naquele país; tudo começou com o Papa Clemente XII que, como sabemos, excomungou a nossa ordem em 1738; naquela época era Sultão do Império Otomano, Mahmut I que, por conveniência política, seguiu à risca a bula Papal, proibindo a presença da maçonaria em todo o Oriente Médio e na África do Norte.
Na década de 1920 iniciou-se a chamada guerra pela Independência Turca, que foi um conjunto de levantes militares e políticos, capitaneados pelo maçom Mustafá Kemal Atatuk e que culminou com a dissolução do Império Otomano em 1922.
Logo após assumir a presidência do país em 1923, Atatuk iniciou o processo de separação entre a religião e o Estado ( O Islamismo deixou de ser religião do Estado em 1928), da generalização da instrução, permitindo o voto à mulher (aliás, antes de Portugal) e a incorporação do alfabeto latino, em vez do Árabe (hoje o árabe é utilizado apenas para assuntos religiosos, pois o Alcorão é escrito em Árabe); além disto ele aboliu a obrigatoriedade do uso do véu pelas mulheres.
Estas movimentações iluministas possibilitaram o retorno da maçonaria ao território turco, hoje com muita atividade laborativa; pelas pesquisas que efetuei, fiquei sabendo que ele, Atatuk, pertenceu a Loja maçônica “Italiana Macedônia Resorta Veritus” de Ancara.
Atatuk governou a Turquia por 15 anos, hoje existe um museu e Mausoléu em Ancara (capital da Turquia) em sua homenagem, ocupando uma área de 750 mil metros quadrados; em quase todas as cidades turcas existem monumentos em sua homenagem, tive a oportunidade de ver uma sua estátua em Istambul, a maior cidade da Turquia, situada no estreito de Bósforo.
A maçonaria e o Catolicismo
Sabemos que temos alguma dificuldade de relacionamento com a cúpula da igreja católica, tudo começou com o Papa Clemente XII que editou, em 1738 uma bula, ameaçando com excomunhão qualquer católico que aderisse à maçonaria, várias outras bulas foram editadas tendo como foco a maçonaria, porém, a mais violenta delas foi a do Papa Leão XII em 1882 (Humanum Genus). Ele dividiu o mundo em dois reinos, de Deus e de Satã e a maçonaria foi incluída no reino de Satã.
Embora o Canon católico editado em 1983, não faça referência explícita à maçonaria, coisa que acontecia nas outras bulas (consideravam, todas elas, a maçonaria uma instituição subversiva, sob o ponto de vista político e religioso); levou muitos católicos sinceros na fé, a procurar as lojas maçônicas para se iniciarem, porém, no mesmo ano de 1983, o Cardeal Ratzinger, que depois tornou-se o Papa Benedito XVI, na época presidente da Sacra Congregação para a Doutrina da Fé, fez um esclarecimento, dizendo que não houve nenhuma mudança e que se um católico se tornar um maçom, poderá não receber a comunhão da igreja.
Embora no Brasil, especialmente em Goiás, não tenhamos, como instituição, nenhuma dificuldade na convivência com a igreja católica, a situação continua um pouco confusa, se formos observar o que existe de documentação. O maçom sabe que não existe conflito entre a sua religião e a nossa fraternidade, frequenta as duas instituições sem nenhuma crise de consciência.
Como maçom e católico considero uma grande pena estes acontecimentos, pois, no passado tivemos (figuras eclesiásticas da igreja católica e a maçonaria) relacionamento que permitiu algumas epopéias da história do Brasil; aproveitando a aproximação da data da nossa independência, para apenas referir a um acontecimento, está registrada na historiografia (nada pode mudar estes fatos), que vários padres ombrearam com a nossa instituição na luta pela Independência.
Um dos locais, considerado o Centro da Conspiração do movimento da Independência, era o Convento de Santo Antonio, no largo da Carioca no Rio de Janeiro, onde vivia o maçom, membro e ex-orador da Loja Comércio e Artes, Frei Francisco Sampaio; ali se reuniam, junto com Frei Sampaio, dentre tantos outros, os maçons Gonçalves Ledo, Cônego Januário Barbosa, José Joaquim da Rocha.
Se quisermos basear em informações divulgadas por historiadores não maçons, basta consultar “João Dornas Filho- Os Andradas na História do Brasil” para se inteirar da sua afirmativa: “A Lêdo e ao Cônego Januário se deve a proclamação ao Imperador, forçando-o ao Fico” ; precisa mais evidência para esta combinação de esforços entre a Igreja católica e a maçonaria?
Tivemos sob nosso teto, como maçons convictos, uma grande quantidade de padres, cônegos e frades, inclusive dois bispos – Dom Azeredo Coutinho, de Olinda e Dom José Caetano da Silva Coutinho, Bispo da Diocese do Rio de Janeiro.
Na atualidade, como assinala o escritor maçom João Bosco Corrêa, o grande acontecimento foi a missa celebrada por Dom Avelar Brandão Vilela, na Grande Loja Liberdade, no natal de 1975, com grande repercussão, tanto no Brasil como no exterior.
Tivemos no passado, na época do Império, uma grave crise entre a Igreja católica e a Maçonaria, porém, acredito que este poderá ser assunto para outra oportunidade, uma vez que alongamos mais do que devíamos esta exposição.
Créditos devidos ao autor Ir.'. HÉLIO MOREIRA
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