A tradição das cerimônias das estações perde-se na noite dos tempos. O Sol, nosso Astro-Rei, em seu ciclo anual, teve papel de importância na antiguidade. Os antigos dividiam o ciclo anual em dois grandes períodos, conforme o curso do Sol, um ascendente e outro descendente, relacionando-se ao “caminho dos deuses” e ao “caminho dos antepassados”, ou ainda, às pontas relativas às duas fases do ano onde ocorrem os solstícios, ligando a evolução da alma humana a essas inquebrantáveis cadeias da natureza. Estas cerimônias comemorativas tratam de incentivar a sintonia de nossas naturezas internas com a Natureza Universal. Uma vez estabelecida esta sintonia, grandes transformações poderão se produzir no homem, realizando-se assim, a Grande Alquimia. As bases de nossa tradição remontam aos nossos antepassados que, através de suas consciências, burilam experiências colhidas em vários ciclos da existência no seu contato com a Natureza. Da observação e absorção desses fenômenos naturais, surgiu o louvor à VIDA. Devido ao lado oculta que prestavam aos ciclos da existência no Louvor à Vida, gerou-se o Culto aos Reis Sagrados, sob diversas formas, segundo as épocas e os costumes, iniciando-se assim, nossa tradição espiritual. A Maçonaria, como arcana mantenedora das tradições do passado, preserva em sua doutrina os fundamentos dos antigos Mistérios e, através da celebração das cerimônias das estações, exalta a Chama Eterna da Vida Cíclica. Embora cada um deva relacionar-se com o Grande Cosmos de sua forma particular, os Maçons congregam-se para, unidos, harmonizarmos nossa natureza interior com o ritmo quaternário da Vida Universal. Estamos comemorando O Solstício de Verão O Sol, o Astro-Rei de nosso sistema planetário, em seu movimento aparente ao redor de nossa Terra, desponta no Oriente em lugares diferentes a cada época do ano. Isto se deve à inclinação do eixo imaginário de nosso planeta. Em relação a seu plano de translação. Devido a esta inclinação é que a Terra possui as quatro conhecidas estações. Assim, durante o ano, o Sol, em sua trajetória, chega a uma máxima posição Norte, afastando-se do Equador, para depois caminhar até a máxima posição Sul e retornar, a seguir, para o Norte num infinito bailado. Nossos ancestrais mantinham o maior interesse no conhecimento preciso das épocas em que essas mudanças ocorriam, demarcando os ciclos em que a natureza evolui, contribuindo com o seu progresso e rogando aos deuses proteção e fecundidade. Para marcarem as posições máximas alcançadas pelo Sol, construíram dois pilares de pedra, cujas ruínas intrigam, até hoje, as mentes aguçada. Esses pilares representam, em síntese, as linhas imaginárias dos Trópicos. Os pilares nos pórticos dos templos, como as colunas “J.´. e B.´.” de nossos templos maçônicos, são reminiscências dos pilares de pedras da antiguidade, erigidos para demarcarem os limites do campo dos nascimentos helíacos. Como nos ensinam nossas instruções maçônicas, as colunas “J.´. e B.´.“ são representações dos pontos máximos de afastamento do Sol do Equador, conhecidos por pontos solsticiais. Assim, quando o Sol atinge limite máximo ao Sul, tocando a linha imaginária do Trópico de Capricórnio, ocorre no hemisfério Sul o Solstício de Verão. O termo Solstício se deve ao fato de que o Sol, no seu afastamento máximo do Equador, parece nesse ponto estacionar, para em seguida, retornar sua caminhada em direção ao Equador. Desde tempos, imemoráveis, nossos antepassados festejavam os solstícios. Nos mistérios egípcios, o Sol era simbolizado por Osíris, como o Espírito do Universo e Governador das Estrelas. Os egípcios cultuavam o Sol como sua divindade una e o representavam sob várias formas, de acordo com suas fases, ou seja, a infância, no solstício de Inverno; a adolescência, no Equinócio de Primavera; a maturidade, no Solstício de Verão; e a velhice, no Equinócio de outono. Os romanos celebravam as festas solsticiais em honra ao Deus Janus, o deus de dupla face. Esse costume foi mantido pelos cristãos, nas datas comemorativas de São João Batista e São João Evangelista, sendo tomados por patronos das corporações construtoras da Idade Média e que a Maçonaria Especulativa manteve como tradição. As festas solsticiais eram celebradas pelos povos antigos, relacionando-as ao Simbolismo da Luz. Nos solstícios estão assinalados os movimentos em que a luz solar alcança sua máxima plenitude ou sua máxima decrepitude, Janus era a antiga divindade itálica relacionada à luz, em cujas mãos estavam as chaves que abriam os mistérios iniciáticos. Etmologicamente, Janus provem do termo Dianus, a divindade do dia ou da luz, e está relacionado ao termo “Janua”, ou seja, “Porta” , de onde surgem também termos “Januarius” e “Janeiro”, o primeiro mês do ano ou a porta de entrada do ano. Janus, como deus que presidia os começos e as iniciações, era honrado todos os primeiros dias dos meses, como primeiro dia do ano. O Janus Biffrons é também com frequência representado com um rosto masculino e outro feminino, trazendo uma coroa sobre a cabeça, segurando o homem um cetro e a mulher uma chave, símbolos do rei e do controle das épocas. Há aqui uma identidade como o Cristo Universal, que leva o cetro real a quem tem direito em nome de seu Pai Celeste, e de seus ancestrais neste mundo, e na outra mão as chaves dos segredos eternos, a chave tingida pelo seu sangue, que abriu para a humanidade perdida, a porta da vida. O Cetro é o símbolo do poder real ou temporal, enquanto que a chave o é do poder sacerdotal, poderes centralizados pela figura misteriosa de Melkisedek da qual deriva todas as linhagens especiais de seres, atestando as escrituras que mesmo o Cristo era sacerdote, segundo a Ordem de Melkisedek. A Chave é aquela que abre as portas solsticiais, a Janua Coeli e a Janua Inferni, assim como as chaves que abrem os grandes e os pequenos mistérios iniciáticos. Janus, com suas duas faces, uma voltada para a esquerda e outra para a direita, além de representarem a Tradição iniciática, simbolizam o passado e o futuro. Relacionado ao tempo, em verdade encontramos entre o passado que não é mais, e o futuro que ainda não é, o presente de ilusão, o verdadeiro rosto invisível de Janus. Sendo o presente uma manifestação temporal imperceptível, o terceiro rosto somente aparece no sentido de eternidade. Assim, Janus, como Senhor do tríplice tempo, é Aquele que É, assim como o Cristo quando declara ser o alfa e o ômega, o principio e o fim, o Senhor da Eternidade. Janus, como deus da iniciação, presidia a Collegia febrorum, os depositários das iniciações ligados ao exercício dos ofícios, dos quais as corporações de construtores da Idade Média herdaram o mesmo caráter, prestando aos dois São João a mesma dedicação que a Janus. Há na Maçonaria algum símbolo dos Dois São João? No simbolismo maçônico existem duas retas paralelas que tangenciam um circulo, que além de outros significados, representam os dois São João, correspondendo aos pontos solsticiais e aos ciclos ascendentes e descendentes do poder solar ao longo do ano. João, na etimologia hebraica significa “A Graça Divina” , como também o homem iniciado ou iluminado. São João, além de representar simbolicamente o iniciado na Luz da Verdade, representa a própria tradição Esotérica da Corrente Espiritual em nosso mundo. Nossas instruções nos convidam a sermos como João. As corporações de construtores adotando São João como patrono, geraram a tradição da pergunta ritualística: “De onde Vindes?”,cuja resposta reflete a ligação essencial da Maçonaria a mais Justa e Perfeita Loja de São João, a Grande Loja Branca. São João, o Evangelista, que preside o Solstício de Verão, foi o “discípulo que Janus amava, o filho do trovão“, e o primeiro apóstolo a reconhecer em Jesus o Cristo Universal, bem como o último apóstolo a falecer. Assim como João, o Batista, seu mestre; São João o Evangelista, foi um precursor profético, legando-nos o monumental Apocalipse, a verdadeira doutrina esotérica em seu evangelho, como verdadeiro Sol a iluminar nossos espíritos. Como vemos, as comemorações dos solstícios mantidas pela maçonaria afirmam a unidade imperecedoura da Tradição Iniciática da Idade, simbolizada pela figura de São João, como pelo deus Janus. O Solstício de Verão nos proporciona o máximo da Luz Solar. A Luz tem sempre sido considerada como o símbolo mais apropriado da Divindade e, como tal, os sábios da antiguidade consideravam o Sol, como Seu aspecto físico e material. Assim como no Solstício de Verão o Sol está em seu ponto mais alto, assim também nosso espírito tem a oportunidade de alcançarem os céus acima das nuvens da ignorância, neste período. Assim como as sagradas sementes da Fraternidade que foram lançadas em nosso interior na primavera se tornaram flores, neste verão deveremos nutri-las com o Fogo do Amor, para que seus frutos sejam nosso sentido de vida quando tivermos deixado estes corpos mortais. Assim sendo, ajudai-me a invocar o auxilio do G.´.A.´.D.´.U.´. nesta solene ocasião, a fim de rogarmos a devida proteção neste verão que se inicia. Louvado seja, G.´.A.´.D.´.U.´., Senhor da Suprema Luz, Doador do fogo Espiritual do Amor. Abençoada seja a Luz do verão que brilha sobre nós no meio de nosso interior, e que não produz sombras ilusórias que ofusquem nossos passos no progresso espiritual. Faz, Senhor, que todos tenhamos um tempo de iluminação, e que seja acolhido em nossos corações o calor do verão, com o qual devemos viver uns com os outros. Assim como as flores exalam seu perfume, sem perderem sua perfeição nem preferência, exalemos bondade e virtudes a todos que de nós se aproximem, sem que o Fogo do Amor diminua em nossos corações. Como símbolo de nossa estima, oferecemos a todos estas flores, que simbolizam o Sol do Verão para que levem para seus lares, como lareiras onde o fogo do Amor deverá ser cultuado neste verão.
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